Resumo – Cuidado pastoral em tempos de insegurança

Resumo do livro : Cuidado pastoral em tempos de insegurança

Muitas pessoas contam com a solidariedade e apoio incondicional dos pastores e pastoras nesse tempo de imensos vazios e de desorientação, elas precisam ser cuidadas, precisam de auxílio em suas lutas diárias para se fortaleceram com suas esperanças e se sentirem cuidadas.

O eixo articulador do livro é o princípio de cuidar.

Cuidar implica em relacionamentos baseados em fidelidade e motivação para servir de elo que facilite o livre caminhar das pessoas, famílias, grupos e comunidades que estão vivendo no deserto do abandono.

O livro tem seu nascedouro em Duas fontes essenciais: prática pastoral e a docência.

Ele é baseado em experiências e pesquisas através da convivência com pessoas de várias comunidades. O autor menciona algumas referências que norteiam o trabalho do cuidado pastoral:

• A prática pastoral é indissociável das teorias, pois as teorias dão consistência e orientação, a teoria é pra justificar o que fazemos elas trabalham em dependência mútua, circularidade e permite a contínua revisão em 1 Pd 5.1-3 encontramos uma passagem muito esclarecedora a respeito desse cuidado e como desse ocorrer.
• Contextualidade É a segunda linha de orientação, a revelação divina acontece no encontro com a história, revelação e contexto representam dois polos que se completam, por isso  deve-se conhecer sua realidade.
• A leitura da hermenêutica é nosso terceiro eixo conceitual, pois em torno dela se sustentam considerações teológico-pastorais na intenção da atualização, interpretação e reflexão teológica.
• O Caráter ecumênico do cuidado pastoral é nosso pressuposto essencial. Ecumênico em dois sentidos: A ação pastoral tem alcance abrangente e é exercida em sintonia com o Povo de Deus, em que pesam nossas indiferenças cultuais, culturais, de linguagem e teológicas. Não podemos fazer essa divisão no cuidar das pessoas.

Um ponto importante  no cuidado pastoral  é fazer uso do estudo fenomenológico, pois por meio dele estudamos  suas realidades e utilizamos até mesmo de meios de comunicação para empreender suas análises.

Esse livro examina raízes históricas e fundamentos do pastoreio no Antigo Israel e no Novo Testamento.

Estudar a teoria teológico- pastoral iluminadora da prática para fundamentar o pastoreio, teoria antropológico-pastoral que ofereça base para a compreensão, em nível bíblico-teológico do ser humano e suas interações essenciais.

Teologia Pastoral

A disciplina acadêmica, ligada por suas concepções à teologia prática, podendo ser considerada um ramo da teologia prática. Alimenta-se de estudos das escrituras, serve-se das investigações históricas, recorre às ciências humanas e sociais para compreender e melhor servir a família humana. Navega em diversas áreas do conhecimento, reflete sobre a divindade, sobre a humanidade, sobre a humanidade encarnada e seus inúmeros relacionamentos e sistemas de variedades eclesiásticas, evoluções dos movimentos teológicos devido às mudanças culturais e dos avanços das ciências.

A teologia pastoral foi instituída como disciplina universitária no séc. XVIII, segundo afirma F.J.Calvo(1983), a partir daí a teologia pastoral vive um dilema entre assumir sua identidade científica ou prática. A partir da Segunda Guerra Mundial o interesse teológico-pastoral foi mais sistemático e científico. O autor mostra a variação de algumas palavras como pastoreio, pastoral.

O pastor/pastora deve estar atento ao seu rebanho  para ajuda-los . A teologia pastoral é sistemática e interage com a natureza humana, experiências humanas fundamentais como nascimento, amor, perdas, morte, vida, economia, política, social.

A teologia pastoral é o estudo teológico da ação da Igreja, na sua própria vida e na direção da sociedade em resposta a atividade de Deus. O relacionamento humano não se dá a distância ele necessita de Relacionamentos e interação com o contexto, pois o contexto regula o conteúdo da teologia, ele vai definir como aplicaremos o conteúdo.

Em João 1.14 Jesus se torna carne, experimenta nossas dores, fraquezas.

A história é o palco das ações de cuidado pastoral e nunca devemos esquecer que cuidado é estar presente, pois Jesus Cristo se encarnou no contexto humano, pois o contexto humano nos insere na realidade, Deus se manifesta na existência humana. O cristianismo é uma forma de Deus se revelar, ou seja a Graça de Deus revelada, é na situação humana que Deus se manifesta, pois Deus se encarnou por elas e quando cuidamos das pessoas é manifestada a graça de Deus, pois ela e’ manifestada a todos igualmente num contexto de diversidades.

Jesus Cristo, o bom Pastor: O paradigma pastoral.

A noção de paradigma nesse contexto, aponta-nos para um conjunto de disposições, atitudes e práticas, não se trata de modelos estáticos ou de técnicas. Toda a vida de Jesus é uma atividade pastoral modelo, pauta e critério para todas as circunstâncias. A pessoa e prática de Jesus é o modelo por excelência do ministério da Igreja e do ministério do pastor e da pastora.

O marco referencial que confere sentido e conteúdo a todos os ministérios da igreja é o ministério do servo, o Ebed Iavé, o verdadeiro Diakonos. Observamos um paradigma cristológico em Fp 2.5 onde se menciona que Cristo despojou-se de sua divindade e assumiu a forma de servo, e em nós deve haver o mesmo sentimento.

2Co 4.6, Lc 4.18-19, Is 61.1-2.

O objetivo central de toda ação pastoral é que Cristo seja formado, ou seja, que Cristo permeie toda a vida das pessoas e seus múltiplos relacionamentos: com Deus, com o próximo, com a natureza e com elas mesmas João 10.10, Bonhoeffer, 1955, p. 55-78.

Cuidado pastoral

Quem cuida sente-se afetivamente ligado ao outro, o cuidar é universalmente humano, e só podemos receber cuidado se cuidarmos de outros. Trata-se de uma atitude e não de dois atos, não nos tornamos pessoas sem o encontro com outra pessoa. Cuidar é mais do que um ato é uma atitude, portanto, abrange mais do que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.

Cuidado pastoral não é literalmente, um conceito bíblico. Mas, tem uma longa história na dinâmica tradição da igreja e respaldo nas escrituras. É tradução do francês cure d’âme (cura da alma) ou do latim cura animarum (cura ou cuidado da alma). Na tradição cristã a expressão tornou-se clássica ao descrever o elemento central e unificador do ministério pastoral, cuidar das almas significa cuidar do centro vital das pessoas, é o reparo e a nutrição desse centro pessoal de afeto e vontade.

PSIQUÊ- ALMA, no mundo grego antigo o cuidar tinha uma conotação mais cognitiva, tratava-se de desenvolver ideias para influenciar as atitudes das pessoas a fim de capacitá-las a lidar melhor com as diversas situações existenciais.

Cuidado pastoral na modernidade sob o impacto do iluminismo teve como base o desenvolvimento de qualidades humanas e a promoção da autonomia do indivíduo, sob a influência das ciências psicológicas, enfatiza-se a possiblidade de mudança de atitudes e comportamentos, além da auto realização. O cuidado pastoral implica em um encontro de experiência, conhecimento, reciprocidade e interação que envolve o influenciar, transforma e mudar.

Clebsich e Jacke (p.32-66; C.f. Hiltner, 1958, Clinibeli, 1998) identificam e descrevem quatro funções pastorais proeminentes na história da igreja.

• Cura- Significa tornar o Homem inteiro, íntegro, completo, todas as áreas.
• Suste- é a ajuda às pessoas em sofrimentos, ou e crise, ajudando-as a transcenderem essas situações.
• Guiar- é a assistência pastoral em face de iminência de decisões e operações em relação às alternativas de pensamentos e ação, em particular quando essas escolhas podem alterar profundamente sua vida presente e futura.
• Reconciliar- facilitar o restabelecimento de relacionamentos rompidos entre o indivíduo e Deus, pessoas e natureza, pessoas, grupos e sociedade.

Howard Clienebell (1998) adiciona uma quinta função.

• Nutrir- o objetivo da nutrição é capacitar as pessoas a desenvolverem suas potencialidades, dadas por Deus, ao longo de sua jornada de vida. Clinebell descreve a função de nutrir como uma aproximação humano-potencial em que o objetivo é facilitar o desenvolvimento máximo das potencialidades humanas em cada estágio da evolução da personalidade de forma a contribuir para o crescimento de outras pessoas, para o desenvolvimento da sociedade de tal forma que todas as pessoas tenham a oportunidade de usar suas plenas potencialidades.

No A.T. a nação de Israel aplica esse termo de pastor para Deus (Sl 23.1).

• Poder e carinho, teologia veterotestamentária.
• No livro de Jeremias (21.11; 23.2), menciona o pastor infiel, explorador.

Nunca devemos cuidar para tirar proveito, Jesus é o modelo para os pastores, pastoras e para a pastoral da igreja. Nós somos o instrumento, mas a palavra de Deus opera, pedagogia da presença, ou seja, estar junto, temos que ter em mente que devemos ouvir além das palavras, pois cada pessoas tem uma história. Somos chamados para exercer compaixão, e quando a exercemos nos colocamos no lugar do outro, compreendemos e ajudamos por entende-lo, pois a compaixão acolhe temos que ter em mente que somos iguais e estamos sujeitos a tudo.

Ação pastoral e teologia da ação

Somos chamados para cuidar da comunidade, suas estruturas, natureza. Muitas vezes temos vivido uma visão reducionista, pois privatizamos a fé e distanciamos a atuação da igreja na sociedade, fazemos uma teologia ensimesmada. A teologia tem que se preocupar com os pobres, injustiçados, indo de encontro com essa teologia que prega que o pobre é castigado por Deus. A teologia pastoral tem que mudar as estruturas sociais.

A teologia pastoral se serve de dados históricos, deve-se olhar em torno das comunidades para identificação de urgências, necessidades, clamores e dilemas, focar nas pessoas. A justiça social faz parte da espiritualidade, um relacionamento não somente com Deus mais envolvimentos e relacionamentos também com o próximo, justiça e fé, cuidar do ser humano por completo. 

Fonte:  Livro: Cuidado pastoral em tempos de insegurança

Autor: Ronaldo Sathler-Rosa     

Editora: Aste

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