Posicionamento cristão pós apostólico
O cristianismo caracterizou-se por se estruturar sobre três elementos importantes: a sucessão apostólica dos bispos, a Regra de fé e a formação do cânon do Novo Testamento. Nesse artigo falaremos rapidamente sobre os motivos que levaram à criação dessa estrutura, como isso ocorreu e quais foram seus expoentes. O cristianismo estava passando por um período conturbado além das perseguições externas por parte de Roma por não aderir às suas práticas pagãs e não ceder ao culto ao Imperador César os cristãos eram considerados como insurgentes e levados à morte, pois ao se recusarem eram tratados por Roma como inimigos do império, pois o culto ao imperador César celebrado por todos uma vez ao ano era uma prova de lealdade.
Não podemos esquecer o gnosticismo que estava assolando o seio cristão, e tentavam infiltrar suas ideias no cristianismo. Além de todos esses problemas externos, o cristianismo estava sendo atacado por problemas internos. 140 d.C. Marcião começou a ensinar que o Deus do Antigo Testamento era tirano e mau enquanto o Deus do Novo Testamento era amoroso e misericordioso, seu pensamento dualístico era herdeiro do gnosticismo. Marcião rejeitou todo o Antigo Testamento e os textos da Nova Aliança (N.T.) que julgava favorecer os leitores judeus, escolhendo os livros que aceitava que dava ênfase para seu ponto de vista acabou escolhendo Lucas (numa versão mutilada, omitindo as histórias da natividade) e dez cartas de Paulo.
Essa visão distorcida de Marcião o levou a excomunhão em 144 d.C., mas muitas igrejas acabaram adotando essa visão de Marcião. Montano entre 156 e 172 d.C. foi outro que causou grandes problemas para a igreja, ele queria tirar todo o secularismo que se infiltrava as igrejas, só que acabou indo para um extremo e trouxe ainda mais complicações para a igreja, pois ele dizia ser aquele que daria segmento a obra de Deus, ele se intitulava o representante do Paracleto, ele sugeria que o tempo do Antigo Testamento havia passado, e que o período cristão centrado em Jesus terminara, o profeta reclamava o direito de colocar Cristo e a mensagem apostólica em segundo plano.
Diante de tudo isso a igreja tinha que se posicionar, ou o evangelho centrado em Cristo e ensinado pelos apóstolos naufragaria, a igreja precisava declarar que os textos apostólicos seriam os únicos reconhecidos. E a igreja começou a formular sua listas canônicas, um dos primeiros documentos em cerca de 190 d.C. chamado cânon Muratori, devido ao seu decobridor L. A. Muratori publicado pela primeira vez em 1740. No começo do séc. IV vem à lista de Eusébio o historiador da igreja. Mas a primeira lista completa como conhecemos hoje surgiu em uma carta de Páscoa escrita em 367 pelo bispo Atanásio de Alexandria, pouco tempo depois, os concílios realizados no norte da África em Hipoca (393) e Cartago (397) publicaram a mesma lista.
Os cristãos viram a necessidade do cânon para a igreja não entrar em declínio. A igreja precisava de líderes fiéis e tementes as doutrinas cristãs que fossem instruídos nas doutrinas apostólicas centradas nos ensinos de Cristo e que zelassem pelas necessidades espirituais dos crentes. Existiam os lideres locais chamados de anciãos ou presbíteros que ficaram conhecidos também como bispos (supervisores) ou ministros (pastores) e possuía também outro grupo de líderes chamados de diáconos. Suas tarefas variavam de lugar para lugar, mas em geral os presbíteros doutrinavam novos convertidos, conduziam o culto público e mantinham a disciplina, já os diáconos auxiliavam os presbíteros de várias formas.
Os responsáveis pela doutrina da igreja faziam frente aos conflitos com os mestres hereges, foi necessário eles voltarem à forma de governo eclesiástico da igreja primitiva com a supervisão de uma autoridade para que a igreja não perdesse a visão, sendo levados por facções dentro da igreja. No final do séc. II o bispo se torna o representante da congregação local, onde os pastores e presbíteros estavam debaixo de sua supervisão e autoridade. Os cristãos católicos (universais) se posicionavam contra as heresias principalmente as gnósticas que diziam que Cristo havia deixado ensinos secretos pra eles, mas os cristãos se mantiveram firmes aos ensinos de Cristo transmitidos publicamente pelos bispos e com isso professavam suas convicções ortodoxas (católicos, tudo o que a lei, os profetas e o Senhor pregavam é fielmente seguido) e assim constituíam sua Regra de fé. Entre os que refutavam as doutrinas gnósticas temos Irineu, na Gália, e Tertuliano, no norte da África.
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