O valor da razão no pensar a fé cristã
A importância da mente no pensar a fé cristã e o problema do senso comum que tem gerado fundamentalismo religioso e preconceito em cristãos.
O autor Jonh Stott escreve em seu livro Crer é Também Pensar e faz um vigoroso apelo aos cristãos para mostrarem “uma devoção inflamada pela verdade”.
Sua intenção não é fazer apologia por uma vida cristã seca, sem humor, teórica, mas sim de uma viva devoção inflamada pelo fogo da verdade.
Stott incentiva os cristãos a buscarem tanto o uso da razão como o da espiritualidade e nos mostra que os dois têm que andarem lado a lado, pois a fé não é algo irracional e precisa de fundamentos sólidos para a construção da verdade.
Se Deus nos deu uma mente nós temos a responsabilidade de utiliza la, por isso temos que buscar o equilíbrio bíblico, evitando-se os extremos do fanatismo.
Quando nós falamos sobre o uso da mente (razão) no pensar a fé Cristã me vem à mente um artigo que eu escrevi sobre a teologia da pregação e o uso da razão, mostrando que a razão ou racionalidade é importantíssima no campo da teologia[1]
Devido aos seres humanos serem racionais, deve-se esperar que a razão tenha um papel preponderante a desempenhar na teologia, pois ela nos auxiliará a construir bases sólidas fortalecendo nossa argumentação.
Em diferentes épocas surgiram diversas controvérsias e algumas até bem diferentes ao que a bíblia ensina e foi necessário um posicionamento racional para que essas ideias não perturbassem o cristianismo.
Durante a época patrística ocorreu certos posicionamentos diante da cultura secular inclusive da filosofia.
A teologia como disciplina racional foi atribuída ao escritor Thomas de Aquino que trabalhou a partir do pressuposto de que a fé cristã é fundamentalmente racional podendo ser sustentada e investigada pela razão, no entanto Aquino e a tradição cristã não acreditavam que o cristianismo estivesse limitado àquilo que pudesse ser comprovado pela razão, e ela se limita apenas a construir sobre aquilo que é conhecido pela revelação.
A teologia é uma disciplina racional, que utiliza métodos racionais para construir a partir daquilo que é conhecido por meio da revelação a fim de ampliar esse conhecimento.
Para os iluministas racionais a razão veio trazer luz (iluminar), romper com a escuridão da fé cristã.
Não podemos confundir entre razão e o racionalismo, a razão é a capacidade humana de pensar, baseando-se em argumentos e evidências, já o racionalismo é uma ideologia é fazer da razão a única fonte de conhecimento sobre Deus, negando a revelação divina, para os racionalistas o cristianismo alegorizou as escrituras, daí surgiu o termo “Jesus histórico”, não o Jesus mostrado nos evangelhos.
O conhecimento deve conduzir à fé. Já vimos que a fé se fundamenta no conhecimento, e é este que a torna racional.
Quando entramos na questão do senso comum ele pode se tornar em falácias gerando fundamentalismo religioso e preconceito nos cristãos, pois o senso comum é o modo de pensar da maioria das pessoas que são admitidas como verdades pelos indivíduos e que foram obtidas pelo Homem a partir de experiências, vivências e por sua visão de mundo (cosmovisão).
No livro A exegese e suas falácias ou Os perigos da interpretação bíblica o autor D.A Carson comenta sobre os perigos de algumas falácias e a importância do uso da razão através de uma análise crítica para se tentar chegar ao real sentido de um texto bíblico para não se deixar levar por opiniões simplesmente pessoais, pontos especulativos, pois muitas vezes lemos os textos bíblicos e aplicamos nossa interpretação pessoal ao texto, utilizamos nossa interpretação tradicional (senso comum) que aprendemos com as pessoas e por isso muitas vezes usamos interpretação contrária ao que o texto quis dizer para seus primeiros ouvintes e o que o texto quer dizer para que o lê, aplicando assim aquele texto para sua vida de uma forma equivocada[2].
Por isso Carson menciona que temos que utilizar os recursos disponíveis a nossa disposição para que possamos entender a bíblia da forma mais correta possível.
Não podemos nos acomodar achando que a nossa interpretação é a correta devemos, portanto ouvir outras opiniões, para que possamos nos aproximar da mensagem como Deus realmente quis transmitir.
[1] https://universodateologia.com.br/teologia-da-pregacao-e-o-uso-da-razao/
[2] Titulo do original: Exegetical Fallacies, Traduzido da edição publicada pela Baker Book House,
Grand Rapids, Michigan, Edições Vida Nova Caixa Postal 21266, São Paulo, SP 04602-970
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