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Como harmonizar as bênçãos e predições de Gênesis 49 e Deuteronômio 33

Gênesis 49 é uma revelação divina a Jacó, ao aproximar-se o fim de sua vida (cerca de 1860 a.C). Deuteronômio 33 foi composto por Moisés 455 anos mais tarde (cerca de 1405 a.C). Portanto, a profecia de Jacó reflete um período de anos mais longo que o de Moisés, no que concerne à futura carreira de Israel. Além disso, o cântico de louvor do legislador é composto em sua maior parte de orações em que se rogam bênçãos futuras, que expressavam seus desejos e esperanças, mas não são profecias. Esses fatos devem ser mantidos em mente quando comparamos as duas passagens, no que concerne às referências às doze tribos. Para maior facilidade, seguiremos a ordem de Gênesis 49 ao falar das várias tribos, em vez de seguir a relação que encontramos em Deuteronômio 33, o oráculo posterior.

Rúben

A tribo de Rúben não usufruiria de preeminência sobre as demais, a despeito do status especial de primogenitura (Gn 49.4). Moisés ora para que ela sobreviva e espera que seus descendentes sejam suficientemente numerosos para firmar-se em seu território (Dt 33.6). Na verdade, a tribo de Rúben foi uma das primeiras a serem subjugadas; aparentemente foi conquistada por Moabe no século IX, como esclarece a inscrição da pedra Mesha (ANET, Pritchard, p. 320). As cidades de Medeba, Baal-neom, Quiriataim e Dibom pertenciam a essa tribo, segundo a divisão original feita por Josué.

Simeão

Essa tribo seria dispersada, junto com a de Levi, entre as demais (Gn 49.5-7). Não há menção de Simeão em Deuteronômio 33. Embora sua população fosse numerosa (59300 homens em armas) à época do Êxodo (Nm 1.23), Simeão não conseguiu manter sua força nem seu número após seu estabelecimento na região semi-árida que lhe coube, ao sul e sudoeste de Judá. Por isso, para fins práticos, essa tribo foi absorvida por Judá, que se tornou sua defensora e aliada antes mesmo do reinado de Saul. No entanto, sua identidade original não se perdeu de todo, visto que, até mesmo nos tempos de Davi, esse rei colocou Sefatias como chefe dos simeonitas (lCr 27.16).

Levi

Jacó uniu Levi e Simeão numa profecia comum de dispersão entre as tribos de Israel (Gn 49.5-7). Aconteceu, porém, que os levitas foram espalhados por todo o território, em 48 cidades, com o objetivo de ensinar os estatutos do Senhor às demais tribos. Foram dispersos não por causa de atrito ou de diminuição em número, mas porque era o plano do Senhor que houvesse o alimento espiritual em toda a comunidade israelita. Deuteronômio 33 exalta o seu status como tribo sacerdotal — exaltação que aparentemente Jacó não previu — ficando ela responsabilizada de ensinar a lei de Deus a todo o Israel e de apresentar diante do Senhor o incenso e as ofertas queimadas. (Não há contradição entre as duas profecias, mas apenas a valorização do fato de Levi não possuir terras como grato e elevado privilégio de uma tribo líder, responsável pela vida espiritual da nação.)

Judá

Gênesis 49.8-12 retrata Judá como se fora um leão, ou um campeão dotado de realeza; seria uma tribo preparada para ocupar posição de destaque, de governo em toda a nação, a partir do tempo do primeiro rei vindo da Judéia (a saber, Davi), até a manifestação de Siló, o Messias. Deuteronômio 33 não contém predições concernentes ao futuro de Judá, mas apenas uma oração para que o Senhor a ajude a vencer seus adversários.

 Zebulom

Gênesis 49.13 prediz a localização desta tribo: perto da praia. Isso possibilitaria uma passagem conveniente para as cargas dos navios que ancorassem nas docas, na costa do Mediterrâneo, para posterior transporte ao mar da Galiléia, até Damasco e adjacência. (O caso é que Zebulom não se localizava na faixa litorânea, mas o vale de Jezreel era cortado por uma estrada excelente para o transporte de mercadorias importadas, que precisavam ser levadas aos mais importantes mercados do interior.) A fronteira ao norte apontava para as grandes cidades comerciais da Fenícia, de que Sidom era na época o principal abastecedor. Quanto a Deuteronômio 33.18, nada mais definido diz a respeito dessa tribo, senão que se regozijará: “Alegre-se, Zebulom, em suas viagens”.

 Issacar

Gênesis 49.14, 15 prevê a época em que o povo trabalhador dessa tribo estaria sujeito à servidão estrangeira — ao lado do resto de Israel e Samaria —, o que veio a acontecer de fato em 732 a.C., quando Tiglate-Pileser III anexou esse território ao Império Assírio, colocando-o sob seu governo (cf. 2Rs 15.29; Is 9.1). Deuteronômio 33.18, 19 contempla um estágio anterior, mais glorioso, do futuro de Issacar, quando Débora e Baraque — que eram nativos dessa tribo (Jz 5.15) — conclamariam os defensores de Israel a que se reunissem na montanha (i.e., no monte Tabor [Jz 4.12]), de onde atacariam os exércitos de Jabim e Sísera, pondo-os em fuga.) À semelhança de Zebulom, Issacar também estaria localizado na rota do vale de Jezreel, o que lhe proporcionava o privilégio de praticar o comércio com os navios ancorados no Mediterrâneo e aproveitar a prática da pesca no mar da Galiléia (“a abundância do mar”). É claro que as condições de prosperidade de Issacar antes do período das invasões assírias cederam lugar à servidão, após a capitulação da Samaria pelos assírios em 732. Dez anos mais tarde, esse território seria capturado e condenado à destruição. Israel seria exilado permanentemente no Oriente Médio (2Rs 17.6).

Gênesis 49.16-18 prevê Sansão (embora ele não seja mencionado pelo nome), como sendo um dos mais conhecidos “juízes” de Israel. (O nome “Dã” vem da raiz dîn que quer dizer “julgar”). Mas a seguir menciona-se a agressão perversa que Dã — ou parte da tribo — faria contra uma pessoa, atacando-a com a fúria de uma serpente venenosa. A referência é àquele episódio sórdido narrado em Juízes 18, em que uma força expedicionária de seiscentos danitas roubam Mica, o efraimita, tirando o seu ídolo de prata, tomando-lhe o seu sacerdote e levando-os presos para o norte. A seguir, os soldados caem sobre a cidade de Laís, sem que houvesse provocação ou aviso prévio, e assassinam todos os seus habitantes, antes de tomar a cidade para si, dando-lhe novo nome: Dã. Quanto a Deuteronômio 33.22, essa passagem descreve simplesmente Dã como um leão que salta — o que ficou ilustrado acima.

 Gade

 Gênesis 49.19 indica que Gade, estando localizada na Transjordânia, estaria sujeita a invasões e ataques, mas conseguiria reunir forças para expulsar o inimigo. Deuteronômio 33 explora mais o tema de sua resistência vitoriosa e apresenta o guerreiro gadita como sendo ousado como um leão e instrumento da justiça de Deus contra seus inimigos. O principal episódio destacado aqui deve referir-se ao cidadão obscuro e marginalizado que se transformou em aclamado patriota: Jefté. Foi ele quem conseguiu expulsar os amonitas e aplicar uma punição severa aos soldados efraimitas que não se preocuparam em ajudar a impedir aquela invasão. Depois, os descendentes de Efraim se sentiram tão ofendidos por não terem sido especialmente convocados para a luta contra os inimigos que fizeram o juramento de matar Jefté, mas acabaram trucidados nos vaus do Jordão (Jz 12.4-6).

Aser

 Gênesis 49.20 refere-se apenas à prosperidade futura dessa tribo do norte; seus membros usufruiriam de comida sofisticada, até mesmo de “manjares de rei”. Deuteronômio 33.24, 25 explora mais um pouco o tema da prosperidade e refere-se à abundância de azeite e à beleza de seus portais e “trancas de suas portas”, que seriam “de bronze”, o tipo mais luxuoso. De fato, os aseritas suplantariam as demais tribos na riqueza material e seriam poupados da devastação ocasionada pela guerra. (Só em 732 a.C. é que viria o desastre, e Aser seria invadido e levado cativo pelo império assírio.)

Naftali

Gênesis 49.21 declara que Naftali seria como uma gazela solta e que proferiria “lindas palavras”, isto é, seria eloquente. Em outras palavras, essa tribo desfrutaria de uma vida relativamente livre e fácil, no cultivo da arte, da literatura e da oratória. Deuteronômio 33.23 coloca ênfase no seu enriquecimento como derivado da pesca e do comércio — em grande parte oriundos do mar da Galiléia e da rota terrestre que a liga à Fenícia, no norte. Naftali estenderia sua influência às regiões que lhe ficariam ao sul (i.e., Zebulom, Issacar e Manassés). É presumível que essa referência diga respeito a relacionamentos comerciais felizes com seus patrícios vizinhos.

José

É interessante que nas duas passagens as tribos de Efraim e Manassés (esta também se dividira em duas partes) seriam tratadas como se fossem uma, tanto nas predições de Jacó como no cântico de Moisés. Visto que a divisão em três porções tribais separadas ocorreu após a conquista, sob Josué, podemos concluir com razoável segurança que nenhum desses dois capítulos foi escrito após esse acontecimento (como julgam os estudiosos liberais, impensadamente). Devemos lembrar, contudo, que o estabelecimento desses dois filhos de José como chefes tribais originou-se na bênção do próprio Jacó, conforme registro de Gênesis 48. Ele havia tomado a decisão de dar a José uma porção dobrada de sua herança, em vez de a Rúben, seu primogênito (Gn 48.13-22).

Gênesis 49.22-26 prediz o futuro cheio de prosperidade e grande produtividade das tribos oriundas de José, quando enfrentassem com muito sucesso os inimigos, a fim de assegurar suas porções herdadas nas terras elevadas, cobertas de bosques, no centro da Palestina. Os “arqueiros” que o atacaram “com rancor” (ao atirar contra José) podem ser uma referência às tropas em carruagens dos cananeus do litoral e aos soldados aquartelados em Bete-Seã (Js 17.15-18). Juízes 1.22-25 fala-nos dos ataques infelizes que os efraimitas desencadearam contra Betel (cujas muralhas sem dúvida eram guarnecidas por muitos arqueiros). Outra possibilidade, que tem o apoio de alguns autores, é que os “arqueiros” seriam tropas egípcias invasoras que controlavam as rotas comerciais mais importantes e algumas cidades-fortalezas estrategicamente localizadas em várias épocas, no período dos juízes, de modo particular durante o reinado de Seti I (1320-1300 a.C.) e de Ramsés, o Grande (1299-1234).

Na correspondência mais antiga de Tell el-Amarna (1400-1370), os reis cananeus continuamente rogaram aos faraós que lhes enviassem “arqueiros” (pi-da-ti) selecionados dentre os soldados do exército egípcio para fortificar suas defesas contra os “habiru” invasores (ou SA.GA), (cf. Pritchard, ANET, p. 488). Qualquer que seja a explicação que adotarmos quanto a tais “arqueiros”, estes receberiam tratamento adequado da parte dos efraimitas, com a ajuda do Senhor. Eles também seriam abençoados com muitas chuvas e abundantes colheitas (“bênçãos das profundezas […] dos seios e do ventre” [v.25]).

 Efraim seria uma tribo que se distinguiria muito de seus irmãos; essa promessa se cumpriria na esplêndida liderança de Josué, filho de Num, o efraimita. (Esse versículo demonstra a impossibilidade de datar-se Gênesis 49 como sendo de qualquer período depois do reinado de Salomão, visto que nenhum autor judeu teria incluído um elogio tão elevado ao grande rival de Judá como o que temos nessa passagem.) Quanto a Deuteronômio 33.13-17, Moisés prediz que a terra de José seria abençoada pelo Senhor com chuvas abundantes e grandes colheitas em um solo fértil. Das colinas ao redor, derramar-se-iam as torrentes de água para aguar os campos semeados, que dariam boas semeaduras. Mediante o favor especial de Deus, que falou com Moisés na sarça ardente, os guerreiros de Efraim e Manassés estariam capacitados a repelir e subjugar os inimigos. Assim vemos que existe um acordo formal entre os dois capítulos com respeito ao futuro dessas duas tribos.

Benjamim

Gênesis 49.27 refere-se de modo sucinto à grande bravura e coragem dessa tribo pequenina. Ela se parece com o “lobo” voraz “que devora” a presa e divide o despojo. (É provável que essas palavras sejam uma predição da capacidade militar de Benjamim em enfrentar todas as tropas das outras onze tribos, durante a guerra benjamita [Jz 20], até que finalmente foram atacados de surpresa perto de Gibeá, e a tribo foi quase aniquilada. Sobraram os seiscentos soldados que fugiram.) Mas, em Deuteronômio 33.12, Moisés roga a Deus que demonstre seu amor por Benjamim e o proteja dia e noite. Devemos, porém, entender que existe uma diferença substancial entre uma predição e uma oração.

 O legislador orou pedindo proteção sobre essa tribo; todavia, a súplica não garantia que o interesse amoroso de Deus e seu cuidado se estendessem indefinidamente pelo futuro, caso os benjamitas abandonassem suas obrigações relacionadas à aliança celebrada com o Senhor e permanecessem no pecado. Enquanto Benjamim fosse obediente e fiel, é certo que contaria com o livramento de Deus — como no caso de Eúde, o benjamita que conseguiu matar Eglom, rei de Moabe. Ele usou de um artifício. Depois de se livrar da vigilância dos guardas moabitas, conseguiu chegar com segurança às terras montanhosas de Efraim, onde reuniu um exército de patriotas corajosos e esmagou as tropas moabitas, recuperando assim a independência de Israel (Jz 3.15-30).

Entretanto, anos mais tarde, Benjamim cometeu a infame atrocidade de Gibeá, e toda a tribo decidiu proteger os sodomitas degenerados que haviam estuprado a concubina do levita, matando-a; foi quando necessária e compreensivelmente o favor de Deus se retirou dos benjamitas. Finalmente, as demais tribos de Israel conseguiram reparar esse crime hediondo, ainda que isso significasse ser praticamente toda a tribo de Benjamim eliminada (Jz 20), como mencionamos acima. No entanto, restaurou-se o favor de Deus pelos benjamitas, depois que sua maldade foi totalmente reparada.

Os seiscentos sobreviventes voltaram a ter comunhão com Israel e com o Senhor. E aumentaram tanto em número que à época de Saul (séc.XI a.C.) constituíam outra vez uma força considerável. Deus escolheu uma pessoa dessa pequenina tribo, tão maltratada, para ser o primeiro rei de Israel: Saul, filho de Quis (1Sm 9 e 10). Assim foi que o Senhor respondeu à oração de Moisés sem comprometer sua integridade e santidade divinas. Concluímos este estudo comparativo com uma observação: não se encontram discrepâncias ou contradições reais entre a profecia de Jacó (Gn 49) e a oração de Moisés (Dt 33).

 

Fonte: Enciclopédia de Temas Bíblicos

Respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da bíblia

Gleason Archer

Editora : Vida – pgs: 92-95

 


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Sobre o Autor

Universo da Teologia
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Em primeiro lugar eu sou um cara apaixonado por Deus e pela minha família. Eu sou teólogo, professor de teologia, escritor, blogueiro, rapper

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