A Liturgia da Palavra
A liturgia da palavra faz parte da área do culto que provém da palavra falada.
A palavra falada é o modo principal de comunicação, pois é oralmente que as memórias coletivas da comunidade são lembradas e reforçadas.
Histórico da liturgia da palavra.
A igreja em sua formação adotou boa parte do ritmo temporal judaico e da mentalidade que fez desse ritmo um meio de rememoração, esse fato é percebido quando observamos essa prática no culto da sinagoga.
A igreja cristã é herdeira do judaísmo que serviu de base para algumas práticas cristãs em seu início e isso gerou muitas discussões durante sua progressividade, pois era considerado por alguns como alegorização judaico-cristã.
Na época patrística surgiram duas escolas de interpretações, a escola de Alexandria que era mais alegórica e a escola de Antioquia que seguia uma linha literal do texto bíblico.
Para alguns estudiosos era da escola de Antioquia que provinha uma interpretação mais séria das escrituras.
No século VI a.C durante o exílio Babilônico a sinagoga se torna o local mais importante para a fé e para a prática da justiça para o povo judeu, pois lá era onde se reuniam para exercitarem a sua fé na adoração a Iavé através da leitura dos textos sagrados e onde o sinhedrim se reunia para exercitar a justiça e também para fins educacionais.
A sinagoga se originou como uma agência de sobrevivência, já que o templo estava destruído e Israel mantinha sua identidade pela lembrança, a Obra Historiográfica Deuteronomista relata que Israel não seguiu a orientação divina e eles foram responsáveis por sua destruição.
Através dessa reflexão instrutiva na sinagoga eles recordariam das maravilhas de Deus guardadas em sua tradição, pode ser que a partir dessa instrução surgiu o culto sinagogal e Israel conseguiu sobreviver através do culto enquanto diversos reinos foram arrasados pela espada.
Essa reflexão sinagogal foi passando de geração para geração numa tradição e essas memórias comunitárias da ação de Deus eram escritas e ensinadas por meio de aulas sinagogais sendo lidas em voz alta e se tornando um instrumento de reflexão e regozijo na comunidade reunida, para James F. White talvez inicialmente isso não tivesse sido pensado como culto, porém se transformou em culto.
Os judeus exilados e saudosos de sua terra natal se reuniam para ler, refletir e regozijar-se no que Deus fizera e a cada vez que faziam essas coisas sua identidade era renovada.
Não havia necessidade de templo e nem de sacerdotes era uma espécie de culto que podia ser conduzido por leigos em qualquer lugar, onde dez homens se reuniam era possível formar uma sinagoga, sendo necessário um livro e pessoas. O culto se transformou numa forma de ensino e transmissão das memórias comunitárias de um povo com o qual Deus havia se comprometido, A SOBREVIÊNCIA SE DEU PELA RECORDAÇÃO.
Não se tratava de um passado morto, mas a recordação sendo lembrada pela atuação de um Deus vivo que se tornava presente no culto, vidas eram transformadas pela recitação das memórias comuns E A PALAVRA FALADA É O MEIO PELO QUAL ISSO OCORRIA.
Esse era o culto com que os primeiros cristãos estavam familiarizados, o estilo de culto era familiar e os apóstolos o utilizavam e muitos judeus convertidos ao cristianismo celebravam o culto na sinagoga e ao mesmo tempo celebravam a eucaristia em casas particulares At 2:46.
A partir de meados do século II os cristãos são expulsos das sinagogas e esses dois tipos de culto se fundiram e o padrão sinagogal foi inserido no padrão da eucaristia.
Do século VI ao XII a liturgia da palavra e a eucaristia se tornaram inseparáveis, exceto em ocasiões raras como a sexta-feira Santa. O primeiro indício que temos dessa união aparece na Primeira Apologia de Justino Mártir escrita em Roma em meados do século II.
No decorrer no tempo foi se modificando essa liturgia da palavra e elementos foram abandonados no início do século IV como as leituras do A.T., da lei, dos profetas, a despedida dos catecúmenos(os ainda não batizados) desapareceram no Ocidente lá pelo final do século VI embora existente no Oriente, entre outros ritos que foram substituídos ou abandonados.
Ao final do século V a mais antiga oração dos fiéis (oração a favor dos outros) foi substituída em Roma por uma oração em forma de Litania (uma série de petições, cada qual seguidas de uma resposta repetitiva) localizada antes das leituras e dos sermão, a resposta era Kyrie Eleison “ Senhor tende piedade de nós” , e no século VIII somente o kyrie permaneceu, com isso a liturgia da palavra em Roma foi destituída de intercessões.
Na Idade Média (no Ocidente) acrescentou o Credo Niceno imediatamente depois do sermão, fazendo oposição ao arianismo(que negava a divindade de Cristo) ele se originou na Espanha e foi promovida por Carlos Magno, e só foi adotada em Roma após o início do século XI e no Oriente foi adotado no século VI como parte da eucaristia.
Esse era o cenário que os reformadores encontraram a perda da leitura do A.T e da oração intercessória, eles contribuíram consideravelmente para o avanço da pregação, dos cantos congregacionais e dos ritos vernaculares (da sua própria cultura).
Em 1523 em sua Formula Missal Lutero alterou pouco a liturgia da palavra, ele apreciava os elementos musicais, os introitos (musica que acompanha o clero até a mesa do altar), Kyrie, Gloria in Exelsis, graduais, aleluia e credo, eliminou as devoções de abertura e sequências não bíblicas, utilizou o canto congregacional em alemão, especialmente o gradual.
O culto dominical se tornou comum entre os luteranos separando a palavra e o sacramento.
O Iluminismo do século XVIII acabou com a eucaristia semanal na maioria dos países luteranos e com isso a liturgia da palavra é alterada e retorna a algumas práticas do século VI como a confissão e o perdão que pode preceder o culto.
Na tradição reformada também ocorreu mudanças, para João Calvino eles estavam seguindo a tradição de uma igreja antiga medieval no diz respeito a essa pratica de confissão e o perdão que precede o culto, pois Calvino preferia que a eucaristia ocorresse todas as semanas.
A confissão de fé de Westiminster visa uma abordagem mais puritana e impõe às igrejas nacionais da Inglaterra, Escócia e Irlanda a pregação, é obviamente o ato dominante do culto a recuperação nas leituras do A.T.
Cada igreja foi adaptando sua própria liturgia.
Como a Tradição da Fronteira que se preocupava com as pessoas irreligiosas esperando-as se converterem ao cristianismo e se desenvolveu a partir daí os encontros ao ar livre ou em tendas onde as pessoas eram reunidas para ouvir a pregação, mas antes iniciava com uma canção gospel e depois vinha a ministração da palavra finalizando com o convite das pessoas pra irem à frente.
Já na tradição Pentecostal no início do século XX, esses encontros seguia a espontaneidade a utilização dos dons de línguas, sua interpretação, liberdade para os testemunhos, leituras bíblicas.
Teologia da liturgia da palavra
Deus fala a nós por meio das leituras e do sermão lidos e pregados por seres humanos, estruturalmente isso significa que esses tipos de cultos giram em torno da palavra de Deus lida nas leituras e expostas no sermão (quando houver), essa foi à intenção dos reformadores e isso se tornou muito mais óbvio na nossa missa Católica Romana. Rm 15:4
Por meio da leitura e exposição das escrituras, o cristão recupera e aproxima para sua vida as experiências de Israel e da igreja antiga, a sobrevivência da igreja depende dessas memórias serem reforçadas, assim como foi o caso de Israel.
James F. White enumera quatro elementos vitais para anúncio da Escritura, o poder de Deus, a Fonte na Escritura, a Autoridade a partir da igreja e a Relação com as pessoas.
Questões pastorais
Somente baseados em prioridades históricas e teológicas é que podemos melhor tomar as decisões práticas e pastorais que a liderança do culto impõe, as decisões práticas vão variar de uma tradição para outra.
O culto precisa ter organização, clareza, centralidade da Escritura, senso de progressão.
A interação com as pessoas é fundamental e se a igreja puder poderá disponibilizar um espaço de socialização depois culto.
O credo é um acréscimo um tanto tardio ao culto no Ocidente e está longe de ser necessário, mas ele pode funcionar como uma resposta apropriada à palavra, principalmente após um sermão doutrinal, dando oportunidade de afirmar em conjunto à fé que torna uma a igreja.
Vocabulário
Introito: música para acompanhar o clero até a mesa do altar
Litania: resposta do Kyrie Coleta: oração de abertura Gradual: originalmente vinha após a leitura do A.T. Aleluia ou Trato: ocasiões penitenciais Canfiteor: oração confissão Sequências: variações não bíblicas do aleluia Glória em excelsis: glória a Deus nas alturas
FORMAÇÃO DE LÍDERES PARA O MINISTÉRIO DE JOVENS E ADOLESCENTES
O Curso “FORMAÇÃO DE LÍDERES PARA O MINISTÉRIO DE JOVENS E ADOLESCENTES” tem como principal objetivo capacitar pessoas que desejam aprimorar e desenvolver suas habilidades no Ministério de Jovens da Igreja. Cada módulo foi organizado visando dar ao líder uma visão clara da importância da sua atuação junto aos jovens e adolescentes.
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